segunda-feira, 25 de julho de 2011

Enamorar

Eu não sei se foi esse clima de mistério e beleza que ronda Buenos Aires. Talvez tenha sido o encanto de algum prédio ou igreja antiga. Quem sabe aquele menino que eu via todos os dias de jaleco branco surrado, pronto para ir à escola de ônibus acompanhado do pai. Ou Porto Madero, com seus edifícios modernos e espelhados, repleto de franquias de Freddo  e Starbucks. A sutileza de um tango de Gardel ou quiçá, um par de olhos qualquer. Não sei bem mas algo me fez querer ficar um pouco mais aqui. 
Essa cidade tem tanto a oferecer  e eu senti que a vivi tão pouco. Se há algo que descobri que quero é Buenos Aires. Buenos Aires com seus contrastes, paradoxos, beleza, miséria, sangue e suor. Quero estar sobre esse céu, falando essa língua, conhecendo essa gente e essa história que se cruza em tantos momentos com a nossa mas de tantos heróis até então desconhecidos para mim.
Essa confusão entre o novo e velho, o tradicional e a quantidade absurda de imigrantes. Essa mescla não seduziu só os meus olhos: seduziu minha alma.
Buenos Aires se tornou minha paixão. Uma dessas paixões de adolescente....dessas que "pode ser roubada",  pela qual se abandona tudo sem olhar para trás, mas que também intuímos que necessitamos  viver, em sua efemeridade. E na sua intensidade.
Em seis meses conheci Buenos Aires. Os próximos são para sentir.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Latinoamericaneando.....

Minha vida em solo hermano revela a cada dia uma descoberta. A maioria delas diferente das que imaginava encontrar. Achei que vivendo aqui estaria imersa na cultura argentina. Veja bem, não é que não esteja, mas a mirada tomou um sentido muito mais latino-americano do que qualquer outro que pudesse ter imaginado. Convivendo com pessoas de tantos países diferentes é natural que o resultado das eleições no Peru cause muito mais frisson em minha pequena comunidade multi-cultural do que o polemizado debate político às vésperas do pleito argentino.
 Aqui essa integração de costumes está presente nas festas no desayunador nas sextas-feiras, onde sempre surge uma bebida étnica (e etílica) diferente para experimentar. Nos almoços em grandes grupos nos domingos, repletos de sabores e tradições que até então eu desconhecia, nos ritmos musicais - algumas vezes de gosto duvidoso - elegidos para bailar.
 As relações em uma república também se tornam muito intensas. O fato de que há um mês você sequer conhecia determinada pessoa se torna totalmente insignificante se você acorda e toma café da manhã, almoça, janta, saí para desbravar a cidade e passa literalmente todo seu tempo livre com ela. E aí dizer adeus pode se tornar uma tarefa muito difícil e as promessas, talvez um tanto ilusórias, de passar férias na casa dela rotineiras. Coleciono convites para conhecer meia latinoamerica - bem quem sabe....vontade não me falta para arrumar a mochila e sair por aí, conhecendo de perto esse continente tão fascinante.
Afinal, tomando as palavras de Belchior emprestadas e fazendo uma pequena licença poética "eu sou apenas uma garota latino-americana sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vinda do interior"



sábado, 9 de abril de 2011

Argentina

Minha saga pela Argentina teve um início maravilhoso: a primeira semana em Buenos Aires contou com a presença das amigas de toda a vida (Emília, Rafela e Nathália) e da minha irmã. Elas ficaram quatro dias e me fizeram percorrer vários pontos turísticos de Buenos Aires, todos lindos. Mas quando elas voltaram pro Brasil a realidade de estar sozinha num país desconhecido e que fala outra língua começou a se firmar. Mesmo estando relativamente perto de casa e manejando com uma certa (relativa, bem relativa) fluência o idioma, coisas como sacar dinheiro com o caixa te dando as opções em espanhol causa um certo temor. Ainda mais se você for tão esperto quanto eu que consegui bloquear o meu cartão (cartão lê-se meu dinheiro e minha sobrevivência...meu arroz, meu pão e minha margarina). Pois é fiz isso. E em pleno carnaval porteño. Me peguei chorando. Dizem que é mal de estrangeiro, nos primeiros dias ficamos muito sensíveis, eu chorava por qualquer besteira. Foi super simples desbloquear o cartão mas bate um medinho de não conseguir, de estar sozinho e quando vês, tu estás  em pânico. Na residencia estudantil onde estou há 4 brasileiras e todas dizem ter passado pelo mesmo.
Aqui eu vivo em contrastes...minha universidade a UADE têm estudantes provenientes da elite argentina,  o bairro onde eu vivo, no sul da cidade, concentra trabalhadores e minha residência é repleta de estrangeiros (colombianos, equatorianos, colombianos, peruanos e chilenos principalmente). Agora imaginem a salada de frutas que é conviver com tantos olhares distintos sobre a realidade.  Como eu amo contrastes e incongruências estou encantada exatamente com o aprendizado que tanta diversidade proporciona.
A elite porteña se assemelha muito a brasileira. Às vezes os comentários burgueses que presencio em minha universidade fazem com que eu tenha a impressão de que não me movi um centímetro e continuo em Caxias do Sul.
Já em meu bairro Barracas chama atenção a impossibilidade de encontrar uma calçada plana. Há degraus para subir e descer a cada 5 metros. O resultado, é claro, são calçadas desertas e pessoas caminhando no meio da rua. Pela manhã cedinho, observo muitos homens indo ao trabalho de ônibus acompanhados dos filhos, que eles deixarão na escola. A naturalidade dessa cena que sempre me toca e demostra o quanto no Brasil estamos distantes de uma relação realmente igualtária entre homens e mulheres. Aqui cuidar dos filhos é uma tarefa que cabe ao casal e os pais cumprem seu papel plenamente.
Mas é na residência onde estou aprendendo mais lições importantes para a minha vida. A arte de cozinhar, de conviver, de compartilhar a vida, de negociar espaços e tempos, de contornar conflitos. Essa está sendo a lição mais produtiva. Viver com pessoas de todas as partes do mundo demostra o muito que temos em comum e o tanto que cada pessoa têm de única. É apaixonante. Voltar já me parece muito mais difícil do que foi chegar. Como dizem por aqui: "a ver".