sábado, 9 de abril de 2011

Argentina

Minha saga pela Argentina teve um início maravilhoso: a primeira semana em Buenos Aires contou com a presença das amigas de toda a vida (Emília, Rafela e Nathália) e da minha irmã. Elas ficaram quatro dias e me fizeram percorrer vários pontos turísticos de Buenos Aires, todos lindos. Mas quando elas voltaram pro Brasil a realidade de estar sozinha num país desconhecido e que fala outra língua começou a se firmar. Mesmo estando relativamente perto de casa e manejando com uma certa (relativa, bem relativa) fluência o idioma, coisas como sacar dinheiro com o caixa te dando as opções em espanhol causa um certo temor. Ainda mais se você for tão esperto quanto eu que consegui bloquear o meu cartão (cartão lê-se meu dinheiro e minha sobrevivência...meu arroz, meu pão e minha margarina). Pois é fiz isso. E em pleno carnaval porteño. Me peguei chorando. Dizem que é mal de estrangeiro, nos primeiros dias ficamos muito sensíveis, eu chorava por qualquer besteira. Foi super simples desbloquear o cartão mas bate um medinho de não conseguir, de estar sozinho e quando vês, tu estás  em pânico. Na residencia estudantil onde estou há 4 brasileiras e todas dizem ter passado pelo mesmo.
Aqui eu vivo em contrastes...minha universidade a UADE têm estudantes provenientes da elite argentina,  o bairro onde eu vivo, no sul da cidade, concentra trabalhadores e minha residência é repleta de estrangeiros (colombianos, equatorianos, colombianos, peruanos e chilenos principalmente). Agora imaginem a salada de frutas que é conviver com tantos olhares distintos sobre a realidade.  Como eu amo contrastes e incongruências estou encantada exatamente com o aprendizado que tanta diversidade proporciona.
A elite porteña se assemelha muito a brasileira. Às vezes os comentários burgueses que presencio em minha universidade fazem com que eu tenha a impressão de que não me movi um centímetro e continuo em Caxias do Sul.
Já em meu bairro Barracas chama atenção a impossibilidade de encontrar uma calçada plana. Há degraus para subir e descer a cada 5 metros. O resultado, é claro, são calçadas desertas e pessoas caminhando no meio da rua. Pela manhã cedinho, observo muitos homens indo ao trabalho de ônibus acompanhados dos filhos, que eles deixarão na escola. A naturalidade dessa cena que sempre me toca e demostra o quanto no Brasil estamos distantes de uma relação realmente igualtária entre homens e mulheres. Aqui cuidar dos filhos é uma tarefa que cabe ao casal e os pais cumprem seu papel plenamente.
Mas é na residência onde estou aprendendo mais lições importantes para a minha vida. A arte de cozinhar, de conviver, de compartilhar a vida, de negociar espaços e tempos, de contornar conflitos. Essa está sendo a lição mais produtiva. Viver com pessoas de todas as partes do mundo demostra o muito que temos em comum e o tanto que cada pessoa têm de única. É apaixonante. Voltar já me parece muito mais difícil do que foi chegar. Como dizem por aqui: "a ver".

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