As poucas
vezes em que aqui escrevi aqui provam que eu não nasci para ter um blog. Sou
dispersa, meus pensamentos se escondem nas últimas páginas de cadernos, em
folhinhas arrancadas, amassadas e jogadas no lixo, detrás do copo de
cerveja...meus pensamentos nem se escondem porque, na verdade, nem acho que
eles tenham uma importância que justifique escondê-los.
Não, não é problema de
autoestima. Mas venho me dedicando a um projeto individual e do ponto de vista
coletivo, o que importa o meu (ou o seu) cotidiano? Ele tem cores,
verdade. É Repleto de ações, e com elas surgem as impressões subjetivas, os
sentimentos, as reflexões.
Estou convencida que é bonito ser
pequeno. Fascinante é simplesmente ser. Com isso - nossas impressões sobre o
cotidiano, a existência, nossas relação com os outros e com o mundo- se pode
preencher uma vida inteira. Mas, no fim das contas, isso realmente basta?
No fundo, sabemos que não.
Buscamos em nossas relações o outro porque não existe sentido em viver de si
para si. Precisamos da troca. Lembro de um trecho de poema do Charles
Baudelaire que nunca mais saiu da minha mente: “Aquilo que os homens chamam Amor é
coisa bem pequena, restrita e frágil, se comparada a essa inefável orgia, a
essa santa prostituição da alma entregue por inteira, poesia e caridade, ao
imprevisto que surge, ao desconhecido que passa".
O individual é maravilhoso e deve
ser vivido em sua plenitude. Mas, enquanto eu me preocupo comigo mesma, existe
cerca de 1 bilhão de pessoas passando fome no mundo, 70% crianças (dados da
FAO). E nunca se produziu tanta comida. Produzimos 30% a mais de alimento do
que o necessário para alimentar todas as pessoas do mundo.
Se pararmos para pensar bem,
existe algo muito perverso acontecendo enquanto estudamos, trabalhamos, fazemos
amor e nos preocupamos com a viagem do próximo feriado. Cálculo simples: se a
população mundial é de 7 bilhões de pessoas, então uma em cada sete pessoas
passa fome hoje no mundo.
A vontade
de dominar, o poder e o dinheiro criaram uma sociedade doente. As pessoas nunca
trabalharam tanto, nunca se mataram tanto para trabalhar (com estresse,
enxaqueca, ausências e tudo mais que esse ritmo produz) e a promessa de
prosperidade e felicidade não veio. E não falamos sobre isso. Nos iludimos,
afinal, pensar dói. Entrega o egoísmo e a falta de sentido e ninguém gosta de
lembrar que vive em uma sociedade sem sentido, porque faz refletir sobre o
sentido da própria existência.
Minha
esperança fica no “outro mundo possível”, citando Galeano, e que está sendo
gestado na barriga desse mundo. Fica com as pessoas de alma pura que conheci no
meu caminhar. A esperança é uma ingenuidade, mas ela nos move. E é ela que eu
busco, porque minha vida está precisando com urgência de um pouco de sentido.
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